Este Blog, tem o intuito de esclarecer a atuação da Terapia Ocupacional nas diversas áreas de atuação, trazendo a quem necessita, possibilidade de tratamento e melhor qualidade de vida. "Nós Terapeutas Ocupacionais não temos o poder de aumentar o tempo de vida de nossos pacientes, mas temos o poder de aumentar a vida destes dias." (João Galdino)
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Terapia Ocupacional e Hospitalização Materno infantil
A hospitalização é um período traumático para criança, onde parece ficar esquecido sua necessidade por um espaço físico, atividades e atenção adequada à sua faixa etária. Podendo comprometer seu desenvolvimento normal, devido à mudanças em sua rotina e ao processo de adaptação à nova realidade que seria a Rotina hospitalar: exames, procedimentos dolorosos, horários, visitas, etc.
A criança deixa para trás o seu mundo: os pais, a casa, os irmãos, a escola, os amigos, os bichos de estimação, os brinquedos. Os acompanhantes, em sua maioria as mães, estão presentes, mas há angústia em seus semblantes, a internação é um momento no qual, além da doença, vivenciam momentos dolorosos, causando medo e emoções de sofrimento ou morte.
Partindo dessas alterações, ocorridas repentinamente na vida da criança, é importância incluir uma assistência adequada e que visem, através de ações lúdicas, minimizar os efeitos da hospitalização e prevenir sofrimentos mentais (psicológicos).
Utilizar o lúdico como recurso terapêutico, proporciona às mesmas o direito de brincar e a continuidade do seu desenvolvimento nas áreas física, afetiva, cognitiva, pessoal e social. Favorece também uma melhora na qualidade de vida dessas crianças, facilitando a prática da equipe multidisciplinar.
Dentre possíveis estratégias utilizadas pela criança para enfrentar o processo da hospitalização, encontra-se o brincar e a leitura, sendo essas práticas próprias de seu momento de vida, nas quais ela descobre, experimenta, inventa, exercita e confere suas habilidades, além de terem estimuladas a criatividade, a iniciativa e a autoconfiança.
O recurso lúdico disponibilizados, não impede que a criança vivencie momentos dolorosos, mas possibilita que ela libere sentimentos de raiva e hostilidade provocados pelo tratamento e por suas conseqüências. Dessa forma, colabora-se para que a criança possa ampliar seus conhecimentos sobre o seu corpo e os procedimentos terapêuticos a que será submetida.
Com atividades que possuam uma seqüência, começo, meio e fim, com o propósito de educar e informar as crianças sobre a necessidade das regras na vida.
A Terapia Ocupacional tem como objetivo a aproximação entre todas as pessoas envolvidas no processo de hospitalização, contribuindo para a humanização e o enriquecimento do ambiente hospitalar, proporcionando alegria com a implantação de algo novo na rotina das crianças hospitalizadas, estimulando à se tornar mais independente, além de estimular sua comunicação e a melhor aceitação do tratamento.
Crianças de zero a dois anos: Essa fase é propícia para os estímulos visual e sonoro, para a qual são importantes: brinquedos coloridos, que se movimentam, sonoros e de pano. Livrinhos com figuras coloridas e de montagem chamam a atenção e divertem as crianças e seus acompanhantes.
O importante é valorizar os campos visual e auditivo, aspectos importantes para a aprendizagem, e não esquecer que, nessa fase, a criança recebe informações através dos sentidos, levando tudo à boca, aumentado o cuidado da equipe e dos acompanhantes, tendo em vista o momento de vida.
Nesse período, as crianças gostam de manipular objetos - retirar, colocar, atirar, empilhar, entre outras atividades -, tornando-se importante oferecer muitos materiais para isso.
Crianças entre 2 e 12 : Nessa fase, as crianças começam a relacionar tudo o que acontece ao redor com seus sentimentos e ações. A linguagem verbal se desenvolve bastante, a criança quer saber o nome de tudo e define as coisas pela sua função. Começa o interesse pela leitura, e há o gosto de reconhecer figuras. O faz-de-conta se faz presente, reproduzindo o seu cotidiano.
Coelho (2000: 15 e 35)15 afirma que: A literatura infantil e, principalmente, os contos de fadas podem ser decisivos para a formação da criança em relação a si mesma e ao mundo à sua volta. O maniqueísmo que divide as personagens em boas e más, belas e feias, poderosas ou fracas, etc., facilita, à criança, a compreensão de certos valores básicos da conduta humana ou do convívio social.
Essa afirmação nos faz entender que, ao lermos uma boa narrativa, de alguma forma, sabemos que, naquele momento, estamos recebendo informações de outra ordem e que, através das histórias, somos capazes de viver muito além da nossa realidade. Enquanto acompanhamos os encontros e desencontros dos personagens, temos a oportunidade de refletir sobre os nossos próprios problemas, solidificando, assim, a idéia de que crianças hospitalizadas precisam se abstrair do momento em que vivem.
Os pacientes de 12 anos em diante demonstraram inicialmente mais timidez. O interesse pelos contos de fadas e pelas sagas ainda é evidente nessa fase, mas também começa a surgir o anseio pelas aventuras.
O jogo, como recurso integrador, é fundamental para despertar o interesse da criança. À medida que joga, ela vai se conhecendo melhor, construindo interiormente o seu mundo e desenvolvendo habilidades operatórias. Ela vai reconhecendo suas possibilidades e desenvolvendo, cada vez mais, a autoconfiança.
Piaget descreve quatro estruturas básicas de jogos infantis: jogo de exercício, jogo simbólico/dramático, jogo de construção e jogo de regras. A importância do jogo de regras, segundo o autor, se dá quando a criança aprende a lidar com a delimitação - no espaço, no tempo, no tipo de atividade válida -, com o que pode ou não pode fazer, garantindo, assim, uma certa regularidade que organiza a ação, tornando-a orgânica.
Para as crianças hospitalizadas, esse reconhecimento da delimitação do espaço e do tempo e o respeito às regras, seja através do jogo, seja dos livros infantis, torna-se imprescindível, tendo em vista as restrições do tratamento. Observa-se que o encanto pelos livros é intenso, principalmente pelos contos de fadas.
Para Bettelheim, o conto de fadas ajuda a nos entendermos melhor, transmitindo à criança uma compreensão intuitiva e subconsciente de sua própria natureza e do que o futuro pode lhe reservar se ela desenvolver seus potenciais positivos. O autor afirma ainda que a criança, com os contos de fadas, percebe que o ser humano, neste nosso mundo, tem de aceitar desafios difíceis, mas, por outro lado, pode também vivenciar aventuras maravilhosas.
Acredita-se que ainda há muito por se fazer nessa área da hospitalização infantil, como, por exemplo, trabalhar as questões da socialização, da integração e da própria inclusão. Procurou-se desmistificar o pavor da rotina hospitalar, transformando-a em brincadeiras lúdicas, que podem ajudar a criança a aliviar e resolver conflitos e até lidar com eles, assim como conversar com naturalidade com crianças e pais, reduzindo o medo e a angústia originados pela doença e pelos períodos de internamento.
Referências
1 Rossit RAS, Kovacs, ACTB. Intervenção essencial de terapia ocupacional em enfermaria pediátrica. Cad Terap Ocup UFSCar. 1998; 7: 58-67. [ Links ]
3 Terra MR. O desenvolvimento humano na teoria de Piaget. Disponível em URL: http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/d00005. htm [2005 jul 15]. [ Links ]
4 Coelho NN. A literatura infantil: abertura para a formação de uma nova mentalidade. In: Literatura infantil: teoria, análise, didática. São Paulo: Moderna; 2000. Pt.1: p.14-45. [ Links ]
5 Bamberger R. Como incentivar o hábito de leitura. 4 ed. São Paulo: Ática; 1988. [ Links ]
6 Zacharias VLCF. O jogo simbólico. Disponível em URL: http://www.centrorefeducacional.com.br/ojogosim.html. [2004 out 17]. [ Links ]
7 Bettelheim B. Sobre a narrativa dos contos de fadas. In: A psicanálise dos contos de fadas. 16. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 2002. p. 185-91. [ Links ]
8 Meirelles S, Oliveira AL. Porque as histórias são importantes para a saúde das crianças. [São Paulo]:Fundação Abrinq; [2002]. [ Links ]
Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil
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